Poucas pessoas conhecem Milan Kundera. E ainda menos pessoas, ouso dizer, sabem que todos os seus livros, de alguma forma, tratam da Leveza e do Peso. Para muito além das páginas de A Insustentável Leveza do Ser, Kundera nos fala dessa dolorosa dicotomia em muitos momentos. Pudera: A leveza e o peso equilibram uma balança
Poucas pessoas conhecem Milan Kundera.
Para muito além das páginas de A Insustentável Leveza do Ser, Kundera nos fala dessa dolorosa dicotomia em muitos momentos.
Pudera: A leveza e o peso equilibram uma balança de peças muito delicadas; em todos os setores de nossa ínfima existência, somos levados a decisões de maior ou menor importância.
A solidão, a ausência de alguém, a perda de uma pessoa, a morte de um sentimento, a ignorância, o nihilismo entranhado, a “não busca”, a falta de impulso, o mais absoluto nada.
Dessa forma, a leveza tem uma conotação extremamente negativa.
Ao contrário do que imaginamos, Leve é tudo aquilo que deixou de ter sentido.
Tudo o que sofreu um esvaziamento, tudo que nos é roubado, tudo que vai embora; é a leveza no sentido mais agudo e doloroso que a palavra poderia comportar.
O peso, por outro lado, nos parece opressivo, mas, pelo contrário: É o peso que faz a vida valer pelo que é.
O peso é a real presença, o fazer e o refazer, e a pancada do martelo que firma um prego à parede, é a mão que te ampara ou te guarda, o abraço, o colo, o sexo, o som, a fúria que nos leva a ir adiante.
Todas as coisas que existem no mundo manifestado têm peso, e por esse peso vivemos.
Vozes, dores, saudades, são feitas de um peso necessário à vida como o ar é essencial aos pulmões.


Mas, se a saudade é a ausência de algo ou alguém manifestada em um plano sutil, como pode a saudade ser peso e leveza da mesma forma?
Mais do que no título do supracitado livro – A insustentável Leveza do Ser – temos aqui um paradoxo?
Será?
Na verdade, não.
Os sentimentos humanos vão muito além daquilo que determinamos por conveniência social.
Assim, a saudade pode ser parte dessa dualidade tão paradoxal.
Se proveniente de uma ausência ilusória, inócua, ou desesperançada, corre a saudade o risco de ser leveza.
E sendo leveza, vazio.
Um vazio que poderá ser perigosamente libertador, à medida que é ele um buraco que suga as forças e todas as razões nobres de SER.
Essa leveza pode cauterizar sentimentos, arrancando-os da raiz.
A saudade que pode ser representada pelo peso, ao contrário, dói pela presença constante de alguém dentro da alma, sem contudo estar presente no mundo manifestado.
À saudade que pesa, pela presença ausente do ser amado que não teve “escolha” em estar longe, damos a característica positiva de pesar como um nobre metal em comparação com uma pedra sem valor, fosca e desgastada pelas crueldades do tempo.
No antigo Egito, o ser humano que tivesse menor peso – que fosse mais leve que a pluma de Maat – poderia ir para um além-vida bom.
Mas, creia-me, você que se aventura a ler esse texto cuspido entre soluços:
Peço a Deus e a todos aqueles que me guardam a graça de viver uma vida pesada – à maneira correta.
Deus me livre, peço ardentemente, de uma vida leve.
Deus me livre do Vazio.
Não sou capaz de sustentá-lo, mesmo precisando erguê-lo sobre os ombros.
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